Estudantes de Astrologia são adultos motivados e com boa formação. Assim, a relação ensino-aprendizagem no âmbito da Astrologia não é uma questão de pedagogia, e sim de andragogia. Mas o que é isso?
A infância é uma fase de extrema dependência em relação aos pais e ao mundo adulto em geral. Isso se reflete também na maneira como são conduzidas as atividades escolares, cabendo ao professor o papel de autoridade inquestionável e polo ativo da relação.
Com a adolescência vêm as primeiras manifestações de rebeldia. A infalibilidade de pais e professores é questionada, assim como as próprias motivações para ir à escola (“Por que preciso aprender trigonometria?”).
Na idade adulta, o indivíduo tende a assumir plenamente sua independência, na medida em que já conta com uma bagagem significativa de experiências e sente-se capaz de aprender com os próprios erros. A forma de exercitar a autonomia recém-adquirida é fazendo suas próprias escolhas, sem interferência de pais, mestres ou orientadores.
Todos parecem atentar para o fato básico de que crianças se tornam um dia adolescentes e adultos, menos a instituição escolar. E eis que a universidade e os cursos profissionalizantes tendem a utilizar com adultos os mesmíssimos métodos e recursos da escola primária e secundária.
A crítica dos teóricos da educação ao modelo infantilizador da universidade vem desde os anos 20, mas foi apenas a partir dos anos 70 que a educação de adultos ganhou uma fundamentação mais consistente com o surgimento da Andragogia – a ciência de orientar adultos a aprender. O pioneiro do novo saber foi M. Knowles, autor, em 1973, de uma obra já clássica intitulada The Adult Learner – A Neglected Species.
E nós com isso?
A observação superficial das turmas que frequentam escolas de Astrologia, ou da plateia de simpósios e congressos, permitirá constatar o óbvio: a quase totalidade dos estudantes de Astrologia é constituída por adultos, a maioria com formação superior e já acostumada à disciplina do ambiente acadêmico. Assim, pensar a relação ensino-aprendizagem no âmbito da Astrologia é levantar uma questão tipicamente andragógica.
Para melhor entender a questão, vejamos um quadro comparativo entre as abordagens pedagógica e andragógica:
Relação professor-aluno
- Pedagogia – Professor é o centro do processo. É ele quem determina o plano de curso, os recursos instrucionais e o modelo de avaliação. O professor é o dispensador de conhecimento, enquanto o aluno é o polo passivo.
- Andragogia – O estudante está no centro do processo, tomando iniciativas de comum acordo com o professor. O ensino tende a ser autogestionado, ou seja, o estudante escolhe conteúdos e métodos e participa da avaliação dos resultados.
Por que aprender?
- Pedagogia – O aluno aprende o que os adultos decidiram que ele precisa saber.
- Andragogia – O estudante aprende o que ele realmente precisa saber em função das necessidades da área de especialização escolhida.
Organização dos conteúdos
- Pedagogia – O conteúdo programático é organizado por matérias ou disciplinas.
- Andragogia – Os conteúdos são trazidos à tona por situações-problema cuja solução exige que o estudante integre vários recursos e ferramentas.
Experiência do aluno
- Pedagogia – A padronização do ensino abre pouco espaço para a experiência do aluno, que não é valorizada.
- Andragogia – A experiência do estudante é matéria-prima fundamental para a aprendizagem, sendo comumente utilizada como ponto de partida.
Como se observa, a Andragogia parte do pressuposto (comprovadamente correto, aliás), que as motivações que levam o adulto a estudar, diferentemente da criança, são de exclusiva origem interna, o que torna pouco eficazes os esquemas coercitivos típicos do ensino de crianças e adolescentes.
Currículo inflexível x trilhas de aprendizagem
Na visão pedagógica tradicional, currículo é quase sinônimo de plano de curso: um conjunto organizado e sistematizado de conteúdos (definidos pelo professor, naturalmente) que cumpre repassar numa sequência predeterminada. Não se reconhece no estudante nem a motivação para organizar seu próprio plano de curso nem o discernimento para identificar as próprias carências e necessidades.
Assim, o planejamento do ensino de Astrologia a partir de uma perspectiva pedagógica jamais abriria mão, por exemplo, de determinar que matérias são pré-requisitos para outras e quantos créditos o aluno deverá cumprir antes de passar para a etapa X ou Y. Já no enfoque andragógico o estudante é corresponsável pela qualidade de seu aprendizado. Se decide “saltar” uma matéria reconhecidamente importante, e se tem esta opção respeitada, provavelmente voltará espontaneamente àquela mesma matéria mais adiante, ao defrontar-se com situações nas quais o conhecimento em pauta seja imprescindível.
Exatamente por levar em conta o fato de que o ensino de Astrologia destina-se essencialmente a adultos, o currículo de Astroletiva não é impositivo, oferecendo várias trilhas de aprendizagem possíveis.
O que há para ler?
No site Andragogia Brasil você pode encontrar um bom texto explicativo sobre o pensamento de Malcolm Knowles.